Houve um dia em que recebemos a ligação de uma assistente social, que nos falou sobre uma criança de cinco anos que estava sendo abusada pelo padrasto. A mãe, por medo de perder o sustento da casa, não denunciou. Às vezes, ela até mandava a menina para casa da avó, mas lá, havia outros abusadores.
O padrasto era alcoólatra e violento. Nós precisávamos fazer algo, pois a casa da família daquela menina já não era um lugar seguro. No entanto, esse processo não é tão simples, não poderíamos simplesmente ir até aquela casa e pegar a menina, o governo não permite isso.
Organizamos, então, uma visita para conversar com a mãe, em um momento em que o marido não estivesse presente, e descobrimos que ela estava com o coração aberto para a nossa ajuda. Presenciamos também as reações da pequena Srey, que demonstrava pânico a cada vez que ouvia um barulho de moto passando próximo a sua casa.
Quanta dor! Tão pequena e tão traumatizada pelos maus tratos que sofria. Mesmo assim, é comum que as crianças não queiram se separar da mãe, apesar de tudo que vivem dentro do lar. Com a Srey não foi diferente. Tivemos que convencê-la de que ela iria para um lugar seguro e, graças a Deus, pouquíssimo dias depois, conseguimos trazê-la para nossa casa (junto com ela veio sua irmã, que também estava em risco com o padrasto).
Foi importantíssima a ida das duas juntas, essencial para que quisessem permanecer conosco. Algo que nos marcou foi perceber a enorme preocupação delas com os familiares que ficaram; quando elas ligam para a mãe, sempre perguntam: “Ele te bateu? Você está machucada?”.
Hoje, podemos testemunhar que seus traumas estão sendo gradativamente curados. Mas é preciso dizer que o resgate não termina quando retiramos a criança de um lugar perigoso, pelo contrário, ele começa ali. O resgate só termina quando a criança está completamente restaurada em suas emoções e sentimentos.
Thiago e Patrícia Leão
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*Por motivos de segurança, os nomes das pessoas envolvidas nos resgates e em situações de risco relatados aqui são fictícios.
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